Faz mal comer um iogurte cujo prazo de validade expirou no
dia anterior? Quanto tempo posso guardar a maionese no
frigorífico depois de aberta? O chocolate esbranquiçado
está estragado? O consultor alimentar Hugo Vieira
esclarece estes e outros mistérios.
Em 2008 um homem britânico foi notícia porque decidiu
efectuar uma experiência comendo apenas alimentos fora do
prazo de validade durante duas semanas. O objectivo era
provar que se deitam fora toneladas de comida quando ainda
se poderiam comer sem prejuízo para a saúde. Parece que
não morreu nem sofreu de indigestão, mas a questão é
pertinente. Afinal, que critérios presidem à definição dos
prazos de validade dos alimentos? Hugo Vieira, consultor
alimentar da 4HSA, uma empresa de consultoria em segurança
alimentar, diz-nos até quando podemos comer...
... iogurtes. Podem ser consumidos um ou dois dias depois
do prazo sem problema, apesar de começarem a perder
características nutricionais.
Em qualquer destes casos, "considere alterações de cheiro
e sabor como alertas vermelhos, já que podem indiciar
multiplicação de microorganismos potencialmente perigosos
como staphilococus ou mesmo salmonelas".
... leite. O UHT pode eventualmente ser consumido até
alguns dias depois do prazo. Já no leite do dia a margem é
menor e não convém ultrapassar o prazo indicado. "Isto
acontece porque o primeiro é sujeito a uma temperatura
muito elevada num período de tempo muito curto, o que
elimina praticamente todas as potenciais bactérias. No
segundo, a esterilização é feita a uma temperatura menor e
num tempo mais alargado, o que apesar de contribuir para o
leite manter as características em termos de sabor, o
torna mais sujeito a contaminação", explica Hugo Vieira.
.... queijos. Com o tempo costuma aparecer bolor que pode
conter toxinas nocivas. "Um ponto pequeno poderá ser
retirado sem prejuízo, mas há sempre algum grau de perigo
já que o bolor (à excepção dos queijos onde é suposto tal
acontecer) indicia sempre uma quebra da barreira biológica
do alimento, o que permite a entrada de toxinas que podem
estar presentes mesmo de forma não visível".
... sobremesas do tipo pudin flan, mousse de chocolate ou
leite-creme. Não convém deixar passar o prazo já que são
produtos processados e com muitos nutrientes, nomeadamente
ovos, pelo que o risco de contaminação com staphilococus e
salmonelas é grande.
... alimentos congelados. Em geral podem ser conservados
quase um ano a um ano e meio sem problemas, desde que
sejam mantidos a menos de 18ºC, já que o frio impede o
desenvolvimento de micro organismos. Em regra, quanto
menos processado for o alimento mais tempo irá
conservar-se sem alterações. Refeições prontas e gelados,
por exemplo, têm mais elementos na composição o que os
torna menos estáveis mas não perigosos. As gorduras
poderão alterar-se e desenvolver-se algum sabor a ranço.
Os alimentos congelados à saída da fábrica, sofrem uma
congelação muito rápida que mantém os nutrientes intactos,
e serão mais seguros do que os congelados em casa. Mas em
qualquer caso, o elemento determinante é sempre a
manutenção da cadeia de frio. Uma quebra nesta cadeia
(seja no transporte para o supermercado ou para sua casa)
diminui a margem de conservação. Sinais disto mesmo são a
formação de cristais de gelo no interior ou a presença de
humidade na embalagem de cartão. Neste caso, não deverá
deixar passar o prazo.
... molhos. Antes de abertos conservam-se bastante bem
algumas semanas para além do prazo indicado, mas depois
convém ter mais precaução.
... maionese. É um produto muito sensível e a sua
conservação vai depender do cuidado que se tiver na
manipulação. "É fácil haver contaminação com staphilococus
ou salmonelas. Basta um descuido com a colher que se usa
para retirá-la do frasco, por exemplo.
...ketchup. É mais ácido e por isso mais resistente. Pode
durar um mês conservado no frigorífico, assim como a
mostarda.
... molhos de tomate para cozinhar. São bastante sensíveis
e podem criar fungos e bolores que produzem toxinas
prejudiciais mesmo dentro do prazo. Mesmo que retire o
bolor visível, é provável que haja mais microorganismos
presentes pelo que não deve consumi-los de todo neste
caso".
... carne fresca. Pode deixar passar um ou dois dias se
mantiver a cadeia de frio intacta e não houver sinais de
alteração. "No caso da carne picada não dê margem alguma.
É que ao picar-se quebra-se a sua barreira biológica, o
que facilita o desenvolvimento de bactérias e permite a
proliferação de micro organismos".
... charcutaria fresca. Como os fiambres e mortadelas são
produtos sensíveis, devem ser consumidos apenas dentro do
prazo. Tenha especial atenção à formação de um biofilme de
gordura no exterior, "possível sinal de microorganismos
que podem causar febres e diarreias ou até malformações do
feto em grávidas".
... produtos fumados. São mais estáveis porque a fumagem
destrói grande parte dos microorganismos e o sal que
contêm também actua como conservante. Se vieram embalados
em vácuo conservam-se bastante tempo e podem ser
consumidos eventualmente algumas semanas depois do prazo
sem risco.
... farinha. Pode durar anos sem que se estrague. Poderá
eventualmente haver alteração da propriedade das
leveduras, o que faz com que se torne menos eficaz a
levedar um bolo ou a fazer pão.
... leite em pó. Também dura bastante tempo desde que não
apanhe humidade e esteja numa embalagem fechada.
... bolachas e tostas. Quando muito poderão ficar moles
com o tempo, um sinal de migração de oxigénio para dentro
da embalagem, mas em geral duram bastante tempo,
especialmente se as embalagens não forem abertas.
... café e chá. Duram anos, sobretudo se estiverem
hermeticamente fechados. Como são confeccionados com água
a ferver o perigo de contaminação também é menor. Se
cheirarem a mofo, contudo, é preferível deitar fora.
... chocolate de culinária. Pode durar indefinidamente,
mesmo que perca algumas propriedades (costuma
embranquecer) não apresentará perigo para a saúde.
... enlatados. Duram anos, devendo apenas estar atenta a
sinais de empolamento ou outros danos nas latas. Neste
caso, não facilite.
... azeite. Aconselha-se o consumo no espaço de um ano,
mas tudo depende da forma de acondicionamento. Deve sempre
ser guardado no escuro já que a luz altera as suas
propriedades. Se estiver exposto à luz no espaço de venda
ou em casa poderá sofrer alterações. Cheiro a ranço é
sempre um indicador disto mesmo.
... vinagre. Também dura bastante tempo e mesmo que perca
qualidades não apresentará perigo para a saúde.
.... sumos e refrigerantes. Sumos de fruta em garrafas de
vidro não devem ser expostos pois a luz solar degrada
rapidamente a vitamina C que contêm. Esta é um dos
elementos conservantes pelo que a sua degradação pode
comprometer a conservação no tempo recomendado. Já os
refrigerantes duram mais tempo ainda que possam perder
propriedades comerciais.
Uma questão de prazo
A menção do prazo de validade na embalagem é obrigatória.
Apenas os produtos hortícolas frescos sem processamento
estão dispensados desta obrigação, tendo no entanto de
exibir a data em que foram embalados. Obviamente, o
principal objectivo é garantir a segurança do consumo, mas
não só. "O prazo também garante características comerciais
como o sabor, cor ou textura, que o fabricante assegura
que se manterão estáveis durante o período indicado",
explica o consultor alimentar. Depois da data indicada no
rótulo, o alimento não está forçosamente estragado mas
pode não corresponder aos parâmetros de qualidade da
altura da compra.
Claro que consumir alimentos fora do prazo de validade
deve ser a excepção e não a regra, mas nem sempre o lixo
terá de ser o destino final de um produto que pode estar
em perfeitas condições, apesar de expirado. Em todo o
caso, para consumi-lo em segurança há factos que convém
saber:
- Por regra, quanto mais reduzido é um prazo e mais
específica a sua data de validade, menos margem haverá
para o consumir depois.
- Em geral, quanto mais água e gordura tiver na sua
composição, mais rapidamente um alimento se irá deteriorar
e menos flexibilidade haverá no seu consumo para além do
prazo.
- Mesmo dentro do prazo, um alimento pode deteriorar-se
rapidamente se for sujeito a uma manipulação ou
conservação deficientes (calor ou contaminação).
- Qualquer embalagem que esteja empolada deve ser
rejeitada já que este ‘inchaço' é um provável indício da
existência de dióxido de carbono no interior, uma reacção
que se dá quando há proliferação de microorganismos."
In Activa - http://activa.aeiou.pt/artigo.aspx?channelid=25809BA1-401C-4F38-A873-62283B2B39A3&contentid=7F3A6CCF-F9EC-4FAE-B3D2-20E4012A90A8
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