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  • Colaboração: Felícia Sampaio - Editora Culinária do Gastronomias.com
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"Acredito que nas marés de incerteza,sempre tem uma onda de boas notícias"...Alessandra Piassarollo


COMEMOS CADA VEZ MAIS E MEXEMO-NOS MENOS. É O CAMINHO PARA O DESASTRE


Não uma, nem duas ou três, mas quatro dietas simultâneas. A nutricionista Maria João Nogueira aborda nesta entrevista regimes alimentares diversos e motivadores que de adaptam ao ritmo e gosto de cada um. Isto com bom senso, sem dietas extremas e de forma realista e racional.


Logo no início do seu livro "Dieta à Sua Medida" lança um manifesto contra as dietas da moda. Isto porque, como diz, não há milagres. O que falha nestas dietas?

Nestas dietas falham várias coisas. São muito restritivas e impraticáveis a curto e médio prazo, pois não são equilibradas. Dou-lhe um exemplo, não é possível manter um regime alimentar sustentável apenas com ananás, como preconizam algumas dietas. Também é comum vermos o anúncio de que “agora é que se descobriu a solução para a perda de peso”. A pessoa que faz a dieta de forma recorrente acha que vai encontrar a tal dieta absoluta e isso não acontece. Repare, não há perdas de peso milagrosas.

O efeito a longo prazo da perda e ganho de peso acaba por ser bastante pernicioso. Quais são os principais problemas?

Há tantos. A pessoa ganha estrias, flacidez, não faz bem genericamente à saúde e psicologicamente desmotiva. Se me pergunta se há casos impossíveis de resolver nesta questão da perda de peso, digo-lhe que não. A pessoa tem é de ter objetos realistas. Como acreditar que se perde oito quilos numa semana a comer crepes com chocolate? Ou com chás, ou sumos? O livro que escrevi, “Dieta à Sua Medida”, leva-nos a pensar de forma realista e racional sobre estas questões. Isto sem radicalismos, com um ou outro deslize, porque também é importante, mas com cuidado.

No fundo o que também nos diz é que encontrar a dieta certa é um pouco como ir ao alfaiate, certo?

A ideia é exatamente essa. Procuro ir ao encontro do contexto de uma consulta de nutrição. Nesses momentos, os pacientes fazem perguntas muito específicas. Por exemplo, “sou intolerante ao glúten?”. Não saberei responder sem um quadro mais geral. Terei de ir por tentativa erro para perceber do que é que aquele indivíduo em concreto carece. O mais importante é as pessoas serem realistas e irem encontrando, com o especialista de saúde, o que conseguem atingir. Isto no sentido de prolongarem no tempo os bons resultados da dieta. O que procurei nesta obra é facultar um instrumento que permita à pessoa antever quatro semanas de cozinha equilibrada à mesa. Receitas saudáveis, agradáveis a apetitosas, divididas em quatro registos alimentares diferentes, as dietas vegetariana, sem lactose e sem glúten, hiperproteica, mediterrânea.

Ou seja, seguindo o velho adágio “não lhe dês o peixe, dá-lhe a cana”. Podemos colocar desta forma esta questão?

Este livro procura desmistificar alguns conceitos e procura evitar erros recorrentes. Todos achamos que somos um pouco nutricionistas, porque todos comemos [risos]. No fundo, acaba por ser uma área de interesse a quase todas as pessoas. Entre os mitos que reiteramos, está o de que a água às refeições engorda ou a necessidade de comer de duas em duas horas. Tem de haver bom senso e o livro, em meu entender, ajuda. Por outro lado, com o livro, como sublinhei, a pessoa põe em prática quatro regimes alimentares. São diferentes abordagens ao fenómeno alimentar. Finda cada uma das quatro semanas a pessoa aponta como se sente. Com base nesta informação o individuo poderá fazer as suas escolhas em função dos melhores resultados que obteve.

Com quatro dietas diferentes no livro não receia que o leitor se possa sentir baralhado?

Não. O livro tem várias vantagens. O leitor irá empreender diversas experiências e verá como se sente. Depois, varia muito no que leva à mesa, não está sempre a fazer o mesmo lanche, ou pequeno-almoço. Por vezes come hidratos ao almoço, outras vezes não. Por outro lado o metabolismo também não se habitua. Quando o organismo se está a acomodar, muda o registo e o individuo tem de se readaptar. São quatro registos alimentares, mas todos eles com uma base comum: são todos saudáveis, propiciam, a perda de peso, o controlo das calorias, o controlo dos hidratos de carbono. Ou seja, há uma base comum e, simultaneamente, este carácter de diferença. É claro que a pessoa irá ajustando a dieta às suas necessidades. O intuito do livro é mesmo perder peso.

E aqui entra o fator motivacional. A motivação é muito importante quando falamos em obter bons resultados com uma dieta, concorda?

Dou-lhe um número: 98% das noivas conseguem atingir os seus objetivos na perda de peso. Porquê? A resposta é óbvia, estão extremamente motivadas. A alimentação, nutrição e emoções estão muito interligadas. Festejamos com um bolo, não com uma corrida. Mais tarde, quando pretendemos reverter a situação, ou seja perder peso e mantê-lo, concluímos que a dieta mais eficaz não é aquela onde se perdem quilos rapidamente. Por isso é que esta é uma realidade difícil. Temos de comer bem e de forma prazerosa. E, uma vez mais, não podemos generalizar. Às minhas consultas chegam pessoas muito motivadas e não voltam e, outras, desanimadas, acabam por ascender a grandes conquistas na perda de peso.

Comer saudável, tendendo à perda de peso, não implica necessariamente abdicar do prazer à mesa.

Sim e no meu livro procuro facilitar a vida às pessoas com as receitas. Isto porque muita gente se queixa de não ter imaginação para mudar a dieta. Aqui proponho dezenas de receitas saudáveis, agradáveis a apetitosas.

O que é o peso ideal?

É muito subjetivo, depende de pessoa para pessoa. Diria, um peso dentro do Índice de Massa Corporal, o que nos confere um intervalo bastante alargado. Um peso que seja razoável, atendendo, por exemplo, ao peso que o individuo teve quando era mais novo. Mais, um peso adequado à estrutura óssea, à massa muscular, ao exercício físico que pratica. Isto nota-se muito nas camadas mais jovens, que seguem modelos de beleza. Estes podem não se adequar à estrutura corporal de uma dada pessoa. Mais uma vez, estamos perante uma questão de bom senso. Olhar para a fórmula do peso ideal e para aquilo que é exequível para cada pessoa. Mais do que questões estéticas, há que ter em atenção a saúde.

Em grande medida manter um peso controlado para além de uma dieta equilibrada passa por alterar hábitos de vida. Concorda?

Hoje em dia com a oferta abundante de alimentos hipercalóricos há que ter cuidado. Os portugueses estão a comer cada vez pior e vemos isso nas camadas mais jovens, com a ingestão de calorias em excesso e más calorias. As nossas crianças estão a comer pior do que as gerações anteriores. A nossa dieta está a aproximar-se muito do modelo norte-americano. A comida que faz pior é a mais barata e facilmente acessível. Tudo isto tem o reverso da medalha, os miúdos engordam e encontramos crianças e adolescentes com doenças que associamos aos adultos, como a diabetes tipo 2 e colesterol elevado. Mais uma vez estamos perante uma questão de informação e esclarecimento.

Proponho-lhe indicar quais são os cinco principais erros alimentares que cometemos.

Comer muito pão branco, não comer legumes às principais refeições, não ingerir sopas, saltar o pequeno-almoço ou fazê-lo sem fibras e com muito açúcar. Juntar açúcar ao leite, ou mesmo ao café. O excesso de enchidos e de álcool. E com isto já superei os cinco erros. Acresce a vida sedentária. As pessoas mexem-se pouco o que acaba por ser um grave problema. Comemos cada vez mais e mexemo-nos menos. É o caminho para o desastre. O problema, muitas vezes, é a vida rápida que levamos. Não encontramos vegetais frescos próximo de casa e resta-nos pouco tempo para cozinhar. Nestas circunstâncias espreita a comida rápida. Só quando degradamos a nossa saúde percebemos o bem que perdemos.

Não resisto perguntar-lhe: que conclusões tirou do seu mestrado que versou sobre a “Intolerância à Lactose”?

Está estimado que 40% da população é intolerante à lactose. O normal é, à medida que crescemos, perdermos a capacidade de digerir o leite. No entanto houve uma evolução genética, principalmente no Norte da Europa. Os enzimas que nos ajudam a digerir a lactose mantêm-se em idade adulta. A tese do meu mestrado incidia no sentido de saber se há uma diminuição no consumo de cálcio quando a pessoa descobre que é intolerante à lactose e diminui o consumo de leite e derivados. Sim, mas tem de haver substitutos e vamos encontrá-los nos legumes verdes, nos peixes. Se não houver a intolerância, então não há a necessidade de retirar o leite. Aliás, na nossa gastronomia temos muitos pratos e típicos e produtos regionais que contêm leite, as sobremesas, os queijos.


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Autora Felícia
Sampaio

Editora culinária do Gastronomias (Roteiro Gastronómico de Portugal) desde 1997. "Sou apaixonada por gastronomia e quero transmitir-lhe essa paixão nas minhas receitas tradicionais, comida de conforto e sobremesas soberbas."

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